A Pascom entrevistou o Seminarista que aos fins de semana auxilia Pe. Enéas; Daniel Bevilacqua Santos Romano, 28 anos, natural de Jundiaí. Terceiro filho de Orestes e Mônica e meus irmãos são: Felipe, Lucas, Marina e Pedro. Felipe é casado com Tannit e tem os filhos: André, Pedro, Marco e Agnes; eles estão como Família em Missão em Aalborg na Dinamarca desde 2011. Lucas é casado com Juliana e pais de Luísa, Francisco e Lorenzo.
E o Seminarista que fica na paroquia André Renato Fernandes, 33 anos, natural de
Jundiaí/SP. Filho de Marivaldo Fernandes e Sonia
Maria Ferigato. Tem dois irmãos Giuliano Michel Fernandes e uma
irmã gêmea Luciana Fernandes, ambos casados e moram em Jundiaí.
Pascom: Como foi esta decisão de ir para o seminário e o que te faz
acreditar que esta é a sua vocação?
Daniel: Cresci e fui criado numa família
católica. Quando criança brincava de missa com meus irmãos... usávamos até pão
sírio e groselha! E assim foi toda minha infância dizendo que seria padre
quando crescesse, mas o tempo foi passando e os interesses naturais da vida
apareceram. Na minha adolescência tive uma namorada, mas o matrimônio não
estava nos planos de Deus para mim. Então começou o processo de discernimento
mais á fundo de qual seria a minha vocação, para que Deus me chamava (e me
chama!). Fazer esse processo de discernimento e tomar uma decisão não foi nada
fácil porque é um caminho de total abandono às mãos de Deus. A partir do
momento que comecei a compreender mais claramente a minha vocação, então
comecei a perceber que a minha vida não estava mais sob o “meu” domínio, mas
sim em fazer a vontade de Deus. E quanto mais me largava nos braços Dele,
quanto mais O deixava conduzir a minha história, eu notava que as coisas se
encaminhavam de uma forma mais perfeita daquela que, se fosse eu a fazer. Nisso
encontrei uma felicidade até então desconhecida! Uma realização impar
principalmente por fazer a vontade de Deus. Então percebi que nisto eu era
(sou) feliz! Feliz por assim perceber o Amor de Deus para comigo, por me amar
também quando não sou “bonzinho”, em meus pecados, a perceber um amor gratuito,
para o qual não preciso me esforçar para ser quem gostaria de ser... posso ser
eu mesmo, sem máscaras, sem fingir ser alguém que não sou para ser aceito pelos
outros...eu posso ser eu mesmo e Deus ainda assim me ama! E essa é a novidade
descoberta por mim... então descobri também a vocação. Ser padre para fazer
este amor de Deus ser conhecido por tantos outros. Apontar Cristo a quem não O
conhece.
Como nasci e cresci na diocese, então
procurei o nosso seminário para iniciar a caminhada de discernimento
vocacional. E assim Deus confirmou esta escolha.
André: Uma
coisa é certa, Deus já estava me preparando há um bom
tempo antes da minha resposta definitiva a Ele. Mas eu
comecei a sentir que essa seria minha vocação já um pouco tarde com os
meus 23 para 24 anos. Estava cursando Engenharia Elétrica e em
certa altura não estava satisfeito com o curso, algo estava faltando. Via
meus irmãos cada um tomando rumo na vida e eu não sabia exatamente o
que seguir e foi um tempo de muito discernimento. Nesse momento participei do
Caminho Neocatecumenal que me ajudou no processo de amadurecimento
vocacional e sentia o desejo de estar a serviço da Igreja ajudando a
caminhada do povo de Deus e ser verdadeiro anunciador da pessoa de Jesus
Cristo.
Pascom: Você esta chegando a Cristo Rei como seminarista e quais serão os
trabalhos dentro desta comunidade e porque é necessário?
Daniel: O meu primeiro trabalho dentro deste
meu estágio pastoral é ter a experiência de como funciona uma paróquia, na sua
parte pastoral, administrativa, a sua “rotina”, como lidar com pessoas e
conseguir ver Deus em todas essas situações (mesmo sabendo o quanto é difícil).
E isso tudo se traduz em algumas
atividades práticas, e a principal tarefa confiada a mim pelo nosso pároco, é
trabalhar com os salmistas. Tudo que farei a eles, as formações litúrgicas,
espirituais etc... será sempre uma tentativa de fazê-los se encontrar com o
Cristo. E como sabemos, o canto litúrgico é de suma importância na liturgia e é
um canto diferenciado de toda e qualquer música existente por ai, pois traduz
uma identidade (da Igreja Católica), atrai para uma pessoa (o Cristo) e por
isso deve ser bem executado, bem rezado. Então, trabalhar com o que
os salmistas já têm, e somar com as experiências que tenho.
Também estou à disposição de outros
serviços que ao longo deste estágio forem surgindo.
André: Já estou na fase final da
caminhada vocacional no seminário. Esse período é mais de estar
presente nas atividades pastorais, como um estágio pastoral e colocar na
prática tudo que eu tenho aprendido esses anos todos, além de fazer comunhão
com o presbitério diocesano. Meus trabalhos estão mais dispostos a ajudar o
pároco na organização das pastorais como também nas formações e ajudar na
liturgia da comunidade. Tudo isso é necessário para o crescimento
espiritual do povo de Deus, pois toda ação eclesial tem como princípio a
evangelização.
Pascom: Como é ser seminarista num mundo que tenta tanto o jovem?
Daniel: Não é difícil concordar que o
mundo hoje oferece muitos atrativos para qualquer um, principalmente ao jovem
que busca construir uma vida “calma e tranquila”. É com muita generosidade de
Deus e é um tanto desafiador ser seminarista hoje, porque a tentação de largar
esta vida de renúncia e seguir a “moda” é muito fácil. O que preciso ter sempre
a minha frente é: “estou para fazer a vontade de Deus, não a minha. Só assim
sou realmente feliz! As minhas renúncias são por uma causa maior, por uma
alegria eterna, não um bem estar de momento” e manter uma vida sempre de oração
e eucarística... unida a Cristo!
André: Não digo ser seminarista, mas estar
seminarista. Estar seminarista porque é um tempo de
amadurecimento da vida sacerdotal, uma semente lançada que deve chegar a gerar
frutos. A vocação do seminarista antes de tudo por ser dom de Deus, ela em
si é sinal num mundo que propõe um caminho contrário aos valores do
Evangelho. E muito mais os jovens, parcela mais fragilizada de nossa sociedade,
onde a falta de credibilidade e a instabilidade econômica e social traz um
verdadeiro conflito interno. Nessas circunstâncias estar
seminarista é propor uma nova forma de vida que é se doar
pelo próximo na esperança de contribuir para o bem da sociedade em que
vivemos.
Pascom: O que Deus representa na sua vida? E qual é o lugar de Nossa Senhora
na sua Vocação?
Daniel: Se tirar Deus do centro da minha
vida, a minha vocação deixa de existir, não servirá para nada ser padre. Será
uma vocação vazia!
A virgem Maria também é para mim um
modelo de obediência ao serviço de Deus, quem me inspira a colocar sempre a
vontade de Deus acima das minhas (mesmo que isto custe tanto!)... Maria também
é minha mãe nas horas difíceis, aquela pra quem peço colo. Como acontece
conosco no cotidiano... quando temos alguma coisa para pedir pro
nosso pai e estamos com certo “receio”, primeiro sempre pedimos para a mãe.
Assim também a virgem Maria é para mim.
André: Viver é estar
em Deus. Por isso, em todos os momentos procuro servi-Lo, pois uma coisa que a
idade nos traz é a sabedoria. Nesses meus 33 anos, em diversos
momentos pude experimentar o quanto vale a pena optar por ouvi-Lo e assim
poder amá-Lo. Nossa vida é sim esperar em Deus e com isso me alegro a
cada dia e a cada passo é motivo de dar graças e a louva-lo.
Quando se
trata de Maria é inevitável, Maria é modelo de
fé. Verdadeira serva e discípula e por isso como cristão devemos ter as
mesmas disposições que Maria teve quando Deus a chamou para sua missão. Minha
vocação nasce do apelo de Deus assim como Maria sou chamado a ter a mesma
humildade da Mãe, a serviço de Deus como Ela disse: “Eis a serva do
Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra (Lc 1,38)”.
Pascom: Porque escolheu a Diocese de Jundiaí para servir a Deus? E
há quanto tempo esta no seminário? Quantos anos de estudo para ser Ordenar
Padre e quais são os estudos diferenciados para um futuro Sacerdote?
Daniel: Uma dúvida que tive durante os
primeiros anos de caminhada vocacional foi exatamente esse “para onde ir?”. A
dúvida era entre ficar na diocese ou ir pra o seminário Redemptoris Mater
(seminário que segue a espiritualidade do Caminho Neocatecumenal e forma
presbíteros itinerantes para qualquer parte do mundo) devido a minha formação
espiritual estar ligada a este itinerário de fé. Mesmo com alguns anos de
seminário em Jundiaí esta dúvida tomava conta de mim, então no ano de 2011
parti em missão como itinerante pelo Caminho Neocatecumenal e fiquei 1 ano em
Palmas – TO. Digo que este tempo foi providencial e muito importante para este
meu discernimento e hoje, depois de tanta oração, reflexão, exame de
consciência, vejo que Deus me quer aqui na diocese e a cada dia tem confirmado
isto.
Ingressei no seminário aqui na diocese
dia 16 de fevereiro de 2008 no curso propedêutico (na época instalado na Igreja
do Bom Jesus em Itu), em 2011 fui para Palmas, como dito acima e em 2013
retornei ao seminário diocesano para continuar os estudos. Estes estruturados:
1 ano propedêutico, 3 anos filosofia e 4 anos teologia, mais o ano pastoral com
missão de 6 meses em Caroebe – RO. (estou hoje cursando o 3º ano de teologia)
André: Sou filho dessa
diocese, nasci e vivi na diocese de Jundiaí. Por conhecer bem a realidade da
nossa diocese escolhi que seria a escolha correta. Não sou
inclinado a nenhum movimento, quero ser um padre com o povo e para o
povo, por isso acredito ser melhor a igreja diocesana. Estou já a 8 anos de
caminhada vocacional, passei por vários períodos da nossa diocese tanto do
episcopado de dom Gil Antônio, também o período de vacância e agora com
nosso atual bispo dom Vicente Costa. Hoje, o período de formação
da ingressão até a
ordenação presbiteral, são de 9,5 anos aproximadamente. Nessa
caminhada somos avaliados pelos formadores todo ano nas dimensões
humano-afetiva, comunitária, espiritual, intelectual e pastoral-missionária.
Para os estudos acadêmicos são exigidos a faculdade de filosofia e teologia,
mas é bom deixar
claro que éapenas uma
dimensão no processo de formação.
Pascom: Que dica da ao jovem de hoje para
descobrir sua Vocação?
Daniel: REZE! Pergunte a Deus o que Ele quer de
você! E não tenha medo! Não tenha medo de responder e perder a vida por Cristo!
Se verdadeiramente
sentes Deus chamando ao sacerdócio, à vida consagrada ou mesmo ao matrimônio;
não tenha medo em responder com generosidade! Ele confirmará todos os dias este
chamado... “Deus não é um homem para dizer e se arrepender” (Nm 23,19) ...e não
te deixarás só!
André: Antes de tudo
escute seu coração. Vocação como o próprio nome já diz é um chamado, é um dom de Deus
e para isso precisamos estar em sintonia com a Palavra de Deus. A cada um Deus
chama a sua maneira, é um processo de
discernimento e por esse motivo não háuma certeza plena. Mesmo durante o
processo do seminário muitos são os momentos para refletirmos, assim como num
casamento vai se amadurecendo aos poucos a vocação. Como Jesus em
vários momentos dizia “não tenhas
medo” e também “farei de ti
pescadores de homens (Mt 4,19)” se coloque a
disposição e como o Papa Francisco já disse “Deus
nos surpreende”, portanto, “vem e segue-me (Mt 19,21)”. É caminhando
que conhecemos Jesus Cristo.
Pascom: Deixe-nos uma mensagem?
Daniel: Amemos a Jesus Cristo, amemos a Igreja, os padres que
Deus nos dá. Rezemos por eles! Não sejamos cristãos para nós mesmos,
acomodados! Mas cristãos verdadeiros, alegres, que vivem o batismo, e buscam a
santidade!
André: Para quem ainda
não teve encontro pessoal com Cristo quero deixar uma bela passagem de
Agostinho que também não deixa de ser uma oração.
“Tarde Vos amei, ó Beleza tão
antiga e tão nova, tarde Vos
amei!
Eis que
habitáveis dentro de mim, e eu, lá fora, a
procurar-Vos!
Disforme,
lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis
comigo e eu não estava Convosco!
Retinha-me
longe de Vós aquilo que não existiria, se não
existisse em Vós.
Porém,
chamastes-me, com uma voz
tão forte e rompestes a minha surdez! Brilhastes, cintilastes, e logo
afugentastes a minha cegueira”!
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